quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Lost

falando da segunda-feira (27-08)

A primeira noite em Cape Town. Fui dormir em torno da meia-noite no horário local, aliás tentar. O cansaço era grande, a cabeça girava, um pouco de dor de cabeça – a primeira e única – e outro tanto por estar perdido, meio ‘onde estou?’, ‘quem sou?’, ‘como será amanhã?’, dúvidas e mais dúvidas. Apaguei logo, mas em compensação acordei praticamente de hora em hora durante a noite.

Vários motivos transformaram a noite numa loucura, chegando a ter cenas engraçadas, inesperadas e bizarras. Existia a preocupação, mesmo com o despertador do celular acionado, em não se atrasar para a primeira aula, que começava às 9hs e 15 antes eu teria o teste para saber qual o nível do meu inglês. Então, meu relógio biológico também enlouqueceu e me fez acordar diversas vezes achando que já de manhã.

Uma das vezes que acordei, uma das últimas, foi num movimento brusco que sentei na cama e disse impulsivamente, meio sonhando, meio acordado, ‘Tá na hora?’ e o coreano abriu os olhos assustado e dizia ‘What?’ (o quê?) repetindo umas três vezes, sem entender o que havia acontecido comigo... hehe nem eu estava me entendendo!

O mais louco aconteceu logo depois que adormeci novamente. As duas camas ficam lado-a-lado, separadas por cerca de 30cm, eu estava dormindo meio de lado, meio olhando pra cima e de repente recebi uma mão na cara, cobrindo todo meu rosto por uns 3segundos... fiquei assustado? Que nada! Muito mais que isso, quase me borrei na calça, fiquei imóvel, não quis revidar, responder o golpe, achando que tava levando um golpe de ninja desse coreano, que após os 3seg continuou com o braço totalmente esticado até próximo ao meu rosto, porém fechou a mão. Fiquei mais maluco, pensando ‘onde me meti?’ ‘era só o começo!’ Virei de lado e dormi outra vez.

Pela manhã levantei uma hora e meia antes da aula, às 7h30, tomei meu banho e quando saí vi sobre a mesa uma tigela de sucrilhos e fibras. O Beom Seok Oh apontava em direção à tigela e dizia ‘for you’ (para você) e mais um bocado de coisas que eu não entendia, sem saber o que estava acontecendo outra vez. Resolvi comer, vai ver que era uma gentileza de quem estava há mais tempo na escola. Depois descobri que ele realmente estava preocupado comigo, porque eu não sabia o horário do café da manhã e por isso trouxe o lanche.

Tive aula das 9hs às 10h40, depois das 11hs às 12h40 e à tarde das 13h30 às 15h10. Esse é o horário todos os dias. Na turma da manhã, um professor chamado Austin, senhor com cerca de 60 anos, mas bem descolado, conduziu uma aula em que os alunos participam bastante, contam suas histórias, interagem para tornar o inglês fluente. Não entendi muito da matéria, apenas palavras-chaves, mas pior foi à tarde quando a professora Pat falava como se estivesse dando aula para alguém com inglês fluente. Eu não entendia nada e ainda deu sono a aula.

Depois da aula, eu e Oh fomos ao Canal Walk, um shopping gigante que existe na cidade. O shopping é simplesmente um dos mais bonitos que já conheci. Completo, com lojas do mundo inteiro, inúmeras marcas conhecidas, com todo o tipo de produtos à venda. Bueno, ainda estou devendo fotos da viagem, mas como já contei a câmera estragou e procurei no shopping todo algum lugar que arrumasse ela, então me indicaram uma assistência no centro da cidade, onde teria que ir na terça-feira.

Outra coisa curiosa e que me chamou a atenção são os ‘mini-bus’, como chamam aqui. Pegamos dois na ida para chegar ao shopping. O mini-bus nada mais é que a Besta que nós conhecemos no Brasil ou Topic, as vans de 16 lugares. São inúmeros e passam às vezes mais de um por minuto, não tem ponto específico para parar, só uma rota de ruas a seguir. Os mini-bus tem um motorista e um cobrador, este fica na porta dos passageiros com a cabeça pra fora da janela, gritando sem parar o destino do mini-bus – o meu bairro, no caso, é Sea Point -, assobiando pra chamar a atenção, enquanto a van acelera e reduz com rapidez a velocidade, buzina e segue até conseguir passageiros para lotar os 16 lugares. É um ator, um maluco, mas são vários, inúmeros por toda a cidade, gritando pelas ruas. É engraçado. A passagem custa 4 randes (um real e alguns centavos) – para comparar, antes de viajar, comprei 1140 randes com 350 reais.

Os ônibus convencionais de transporte urbano são raros, mas tem alguns que saem de um terminal no centro da cidade. Pegamos um mini-bus especial do Canal Walk, às 21hs, pra voltar pra residência estudantil. Cheguei muito cansado, dei uma volta no bar dos estudantes, na sala de internet, na sala de jogos, cumprimentei uns brasileiros que encontrei e cerca de meia hora depois subi para dormir. No estômago tinha só uma torta de framboesa gostosa, bem gostosa mesmo, que eu havia comido no shopping por volta das 19hs. Foi uma segunda-feira agitada, eu estava realmente perdido em relação a tudo que acontecia ao meu redor e a comunicação com Oh vai melhorando em ritmo lento.

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