sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Aldeias de Forrest - O Contador de Histórias – IV

Bom, caros amigos leitores, agora resolvi viajar pelo mundo animal. Você pode ler ouvindo a música ‘Bicharia’ de Os Saltimbancos. De criança, médico e louco todo mundo tem um pouco! Boa viagem e ótimos sonhos!!!

Memórias do Frango

E no frigorífico...
- Não agüento mais esta vida penosa! Agora estou pendurado pelas pernas, de pescoço pra baixo, sem cabeça, sem penas, sem meus pés de três dedos e o pior, ao lado de um monte de frangos machos! – lamentou-se o frango ainda não azedo.

O frango vizinho conforma-se:
- Cale a boca, não adianta fazer drama, nós nascemos pra isso, virar recheio de lasanha, cobertura de pizza, até mesmo estragar na geladeira e acabar no prato do porco ou do cachorro por estarmos azedos.

- É, você está certo, vou refletir sobre a minha vida, a qual não foi nada fácil.

Tudo começou...
... e estava num lugar muito escuro que de repente iniciou um processo de rachadura, rachou e vi alguns rapazes, a minha mãe, uma franga velha chocadeira, falou que eram meus irmãos. Fiquei em dúvida, pois eram todos brancos e eu era mestiço, talvez por causa de meu pai – um galo de rinha e de penas brilhantes em tons de marrom e preto. Em nenhuma hipótese contrariei a mãe, porque ela era uma galinha muito grande. O tempo passava, eu era o pintinho feio e diferente da família, não por culpa da criação que o proprietário nos dava, até porque comíamos milho importado e tomávamos água mineral. Mas porque as minhas penas escuras me deixavam realmente diferente dos outros.

Quando eu já estava crescidinho, minha mãe de sangue teve o mesmo destino que mais tarde também terei: virar comida de humanos e o resto ficar para outros animais carnívoros. Na verdade, quem deveria ser minha mãe é aquela garota mirradinha a qual me dá meu ‘pão e água’ de cada dia desde quando saí do ovo que saiu da galinha, que saiu de um ovo, a qual veio de outra galinha... (e assim por diante). Esta garotinha que dá comida a nós animais é a pobre doméstica da casa, tenho realmente pena dela porque sua patroa a faz ficar mexendo aqui e ali desde cedo da manhã até o fim da noite, sem piedade, pra mim isso é algo desumano (talvez até um frango saiba mais sobre Direitos Humanos do que o próprio homem).

Vocês nem imaginam! Já vi tanta coisa ruim na minha frente. Certa vez, quando passeava com a minha turma dando voltas no quarteirão enxerguei, dentro de uma televisão de cachorro, o Lino, que era um frango muito amigo de minha mãe. Só o conhecíamos pelo apelido. Após ter sido brutalmente morto, o coitado estava sendo assado com um espeto enfiado pelo seu pescoço, atravessando o corpo, até o orifício anal. Ao seu lado estavam outros frangotes magricelas que, mais tarde, seriam vendidos a preço de bananas, mas enquanto permaneciam ali giravam, giravam e giravam numa cruel sincronia.

Ah! E por falar em Lino, eu ainda nem me apresentei. Oi?! Muito prazer, me chamam de Moisés. Minha mãe era a Marilú, a magricela que me trata todos os dias chama-se Jucelaine, mas todos a conhecem por Juce. E o meu pai é o Clodoaldo!
Eu, certa vez, estava muito sozinho, sem ninguém para bater um papo. E resolvi ir passear para ver se achava alguém novo por aqui, e isso foi quando encontrei um buraco num toco de uma árvore.

Eu como sou curioso fui dar uma olhada, vi que era uma casinha muito humilde de uma lesma. Aí eu aproveitei a oportunidade e perguntei:
- Tem alguém aí?
- Tem sim, eu estou em casa!
- Posso entrar?
- Pode, claro.
- Como é o seu nome?
- É Olinda! (respondeu a lesma com muita vontade) E o seu?
- Moisés!
- Não precisa me chamar de Dona, ouviu Moisés, eu sou um ser animal qualquer igual a você, ou não?
- É sim, você está certa, somos todos seres animais iguais perante a lei. Hehe! Eu vim procurar alguém porque eu estava sozinho e não tinha ninguém para conversar. Pelo visto você está com serviço por fazer, não é?
- É sim, mas o serviço faço mais tarde, primeiro o que importa são os seres vivos, os seres animais, e os materiais ficam pra depois. Pra adiantar também convido você para tomar um chá aqui em minha casa todas as tardes, certo?! Mas pense: sempre que você precisar já sou sua amiga para lhe ajudar!

E assim nós fomos ficando amigos e sempre que eu me sentia sozinho ia lá passear. Apesar de tudo, ainda não acredito nesta história maluca, acho que foi um sonho, porque tive que diminuir de tamanho para entrar naquela toca. Para completar, ouvi uma lesma falar. Pois é, é verdade sim, eu tenho uma amiga lesma, a Olinda!

Nenhum comentário: