quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A Aldeia dos Sonhos

Estranho! Como a noite chega rápido, escurece o céu como quando se aproxima uma grande tempestade. O sol alaranjado esconde-se atrás das nuvens, vai descendo por trás das árvores e prédios. Um vento forte e frio convida as folhas de Plátanos, que no chão repousam, para um passeio sem destino. A cidade se agita, as pessoas aligeiram os passos, os carros engarrafam-se numa fuga de fim de tarde para as suas casas.

Já nem posso ver as horas em meu relógio de pulso com a luz natural, mas vejo uma enorme lua cheia agigantar-se no horizonte. O seu brilho opaco reflete nas poças d’água nas calçadas da vizinhança. Sei que ali há alguns canteiros com raras flores amarelas, em meio a galhos secos, curvando-se frente a fileiras de formigas. Vejo, subitamente, um cãozinho com uma perna machucada, tentando a saltos ligeiros atravessar a rua. Penso nas pessoas sentindo-se solitárias neste momento, buscando um abrigo, amedrontadas com o céu que parece a ponto de cair sob suas cabeças. Tudo contrasta. Ao meu lado, vejo uma senhora correr com inúmeras sacolas de supermercado nas mãos. As compras estão caindo por entre seus braços, mas ela não se importa com isto, dando incontroláveis gargalhadas. O cão da perna ferida agora segue a mulher, percebendo que ela trilha um delicioso caminho de alimentos recém saídos da fonte.

Uma criança, no colo da sua mãe, aparentemente sem saberem do mundo ao redor de suas vistas, calmas sentadas em um banco, conversam suavemente. O menino conta sobre sua primeira aula na pré-escola, diz que a professora ensinava a vestir-se de amor, enxergar as pessoas com paixão e brincar de ser feliz. Então, a mãe indaga o pequeno:

- Porque ela disse pra vocês brincarem de ser feliz?

O menino, apesar dos seus cinco anos de idade, parece ter inteligência e civilidade suficiente para conversar com adultos.

- Mãe, a professora disse que mesmo quando coisas ruins acontecem em nosso dia-a-dia a gente deve agir com alegria, porque tudo fica mais fácil de se resolver. Por isso, quando a gente não está realmente contente por dentro, pelo menos temos que brincar de ser feliz...

O garoto veste a camisa da Seleção Brasileira pentacampeã mundial de futebol e uma pulseira com a bandeira da Inglaterra. Ele descreve tim-tim por tim-tim o que acabara de aprender na escola. E acabo sendo seduzido por aquele diálogo envolvente. Quando me dou por conta, estou me aproximando deles prestando atenção em tudo que dizem. Peço licença para sentar-se ao lado dos dois e poder compartilhar deste momento de sabedoria inocente, alienando-se ao estranho entardecer.

- Quem é o senhor?

O tempo passa, a grande lua se esconde num céu nebuloso. Sou apenas um psicólogo, quase um filósofo, melhor, não sou nenhum dos dois, não fui financeiramente suficiente para terminar alguma das faculdades. Meu passatempo favorito é observar o mundo, dar conselhos para as pessoas mais necessitadas, para aquelas que precisam de um aconchego. Meu desafio é sobreviver com uma coluna semanal de comentários sobre Organizações Não-Governamentais, a qual tenho direito e remuneração financeira num jornal da cidade. Nela exponho todo trabalho de pessoas voluntárias que merecem reconhecimento. Sou apenas... respondi para aquele garoto, curioso para saber com toda a sua espontaneidade. O que importa agora é quem os garotos e garotas são e serão pelo futuro da humanidade.

2 comentários:

Fanaticolorado disse...

Muito bom Aleco! show!..."entrei" na história!Abraço!

Anônimo disse...

Parabéns Aleco... posso ficar lendo sem perceber o tempo passar!!!

Abraço

Mona Lisa