Loja de artigos esportivos e em destaque produtos relacionados ao rugby: à direita, as bolas ovais; no chão, cornetas para os torcedores; à esquerda, chapéus, bonés e mantas para os torcedores; e, abaixo ao centro, as camisas oficiais da seleção do País.
A África do Sul comemora vitória na Copa do Mundo de Rugby, em 1995
Máquinas e guidastes formam o cenário do início da construção do Green Point Stadium, o estádio de Cape Town para a Copa do Mundo de 2010
Sem falsas ilusões, não se engane, os sul-africanos nem estão tão felizes com a realização da próxima Copa do Mundo de futebol no país. Nem todos sabem do evento em 2010. E mais: parece que só falei de maravilhas aqui no blog até agora, pra não dizer que só falei de flores daqui, inclusive da moderna e turística Cidade do Cabo, onde estou. Este e o texto abaixo falam de um povo sofrido e das alegrias que o esporte pode trazer, no caso o rugby.
Ao longo desta semana tive aulas de história da África do Sul, seus problemas, suas vitórias, sua economia e política, mais tantos outros aspectos. Além disso, tenho conversado cada vez mais com os nativos. Isso fez abrir meus horizontes a respeito de algumas coisas, entender um pouco do que é bastante complexo ou algo que parece simples, como o grande acontecimento mundial que é a Copa do Mundo de futebol. Copa do Mundo que envolve centenas de países, tem bilhões de espectadores e o país-sede gasta milhões para todos os lados, para suprir as exigências da Fifa.
Aqui no país existem alguns clubes de futebol, em torno de cinco os mais fortes, que fazem a alegria de quem gosta do esporte. São eles: Orlando Pirates, Kaiser Chiefs, Ajax Cape Town, Bloemfontein Celtic, Sundows FC, Manning e o Midrang Tigers. E também existem alguns poucos estádios, em torno de dez em condições para as realizações de jogos. Serão melhorados para a Copa. Mas é difícil imaginar só esse número no Brasil, hein?! Ainda mais que a África do Sul nem é tão pequena assim, tem cerca do tamanho das regiões Sul e Sudeste do Brasil juntas. Agora estão construindo cinco novos estádios visando a Copa do Mundo, um deles aqui em Cape Town – a Cidade do Cabo.
O polêmica reside no fato que o Green Point Stadium está sendo levantado na área próxima à orla de Cape Town, das belas praias, do centro moderno, o setor mais rico da cidade e para turistas. O local equivale a menos de 20 % da população e da área do município. Imagine agora uma cidade dividida em duas, separada por uma montanha – a Table Mountain; então agora saiba que no outro lado da montanha 40% dos mais de 80% de habitantes da cidade que estão daquele lado não têm emprego. Nesse lado também estão os que não têm o que comer, onde doenças como a AIDS assola muitos deles, estão as favelas, os mais pobres.
No lado rico, onde a maioria são os descendentes de europeus que pra cá vieram e se pratica em massa o rubgy, está sendo construído o estádio de futebol. O lado pobre, que é o povo – inclusive aqui – que joga futebol ou pelo menos gosta, terá que gastar cerca de 30 randes (algo como 10 reais) para ir até o estádio. Sendo que, às vezes, não tem nem 10 randes para comprar comida e leite para as crianças – com 10 randes se compra um litro de leite. A montanha esconde dos turistas o lado pobre e triste, esconderá durante a Copa do Mundo e tudo parecerá uma maravilha. Durante um mês de Copa do Mundo em 2010, os turistas e os amantes do rugby irão aos jogos de futebol assistir ao espetáculo – talvez de Alexandre Pato e Kaká –, depois o moderno Green Point Stadium virará um ‘elefante branco’ e o lado pobre da cidade continuará o mesmo.
Ah, você está achando que os turistas trarão dinheiro pra cá durante a Copa?! Você está certo, mas tomara que essa verba seja aplicada no lado pobre e não sirva só pra continuar melhorando a infra-estrutura e construindo mais atrações turísticas do lado de cá da Table Mountain. Essas informações colhi em conversas lá e cá por aqui. Seria interessante a construção do estádio no lado pobre, assim haveria motivos para melhorar a infra-estrutura local, geraria empregos e renda.
Dessa forma pensa a minha professora de inglês do turno da tarde aqui na escola, a Pat. Uma descendente de escoceses preocupada com a situação da África do Sul, um país velho e jovem ao mesmo tempo, que vem sofrendo grandes transformações desde o fim do apartheid* em 1990. Pra ela será só mais um evento esportivo, de um esporte em que aqui é secundário ao lado do críquete, do boxe, corridas de cavalo, atletismo, a minoria pratica e será presenciado ainda por menos da minoria dos habitantes locais, só para privilegiados. Está aberta a discussão! A polêmica existe, o que você acha?
Em tempo, no futebol a África do Sul – agora treinada pelo brasileiro tetracampeão mundial Carlos Alberto Parreira – ainda luta para ter bons jogadores e qualidade que pelo menos Nigéria, Gana, Marrocos, Tunísia, Egito e Camarões têm. No rugby, a África do Sul está entre as potências mundiais, como Nova Zelândia e Austrália. A boa notícia é que o povo acredita no esporte para unir a nação, negros e brancos, mais do qualquer coisa. Assim foi quando a Copa do Mundo de Rugby (Rugby World Cup) ocorreu na Cidade do Cabo (Cape Town) e em outras cidades em 1995. A África do Sul sagrou-se a campeã e toda a população do país comemorou muito a vitória.